quarta-feira, 9 de abril de 2025

UMA VISITA INESPERADA

 

Hoje, na Escola da Barosa, tivemos uma visita inesperada. Chegou montado numa bicicleta muito especial, carregada de ferramentas e histórias. Um verdadeiro amolador — desses que afinavam facas, arranjavam tesouras e davam nova vida aos guarda-chuvas cansados do vento.

Chegou como antigamente: anunciando-se com aquele assobio agudo e inconfundível, quase mágico, que em tempos fazia correr donas de casa à janela. Um som que muitos reconhecem ainda de olhos fechados, porque ficou gravado na infância de quem cresceu a vê-los passar.

As crianças olharam com curiosidade. Alguns adultos sorriram com ternura, reconhecendo o som e o jeito das mãos, a calma de quem já viu muitos dias passarem. Outros recordaram as histórias contadas pelos avós — que ver um amolador era sinal de chuva. E, de facto, o céu pareceu nublado por instantes, como que a concordar.

Este senhor veio oferecer presença, memória e espanto. Sentado na sua bicicleta de outros tempos,  trouxe-nos um pedaço de história viva — uma profissão em vias de extinção.

Neste dia, mais do que afiar ferramentas, afiou a nossa memória coletiva. E, por instantes, a escola transformou-se num lugar onde o passado e o presente se deram as mãos. Num tempo em que quase tudo se descarta e substitui, há ofícios que nos lembram do valor de reparar, cuidar, prolongar a vida dos objetos. 

Obrigado, senhor amolador, por esta visita que foi mais do que um acaso, foi um Eco do Passado...






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